Uma família de Curitiba denunciou nas redes sociais o que considerou como uma situação discriminatória que aconteceu no HotZone, parque de diversões que fica no ParkShoppingBarigui, em Curitiba. Na segunda-feira (14), a pequena Ana Clara, de 9 anos, foi proibida de usar os brinquedos do parque, por ter Atrofia Muscular Espinhal (AME) tipo 3. O HotZone confirmou que houve um erro. 

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Chronoz, o brinquedo que a menina foi impedida de usar, mesmo já tendo ido uma vez. Foto: Reprodução/HotZone.

Ana Clara estava no parque como convidada de um aniversário. As crianças receberam um cartão que dava direito a usar os brinquedos. Como a menina tem AME, e tem mobilidade reduzida, a família procurou uma funcionária para entender se havia fila preferencial ou orientação sobre ibilidade. 

“A resposta foi clara: não havia fila preferencial e, além disso, alguns brinquedos não estavam autorizados para pessoas com deficiência. Essa informação, dada sem qualquer embasamento técnico visível, veio sem nenhum tipo de protocolo ível, avaliação individualizada do caso por uma equipe multiprofissional, ou material informativo”

contou Jefferson Bertoldi, pai de Ana Clara.

Em um determinado momento, a menina pediu para ir em um brinquedo chamado Chronoz. O atendente explicou que não podia ajudar fisicamente, mas orientou que a mãe auxiliasse na subida da escada. 

“Ana Clara brincou com segurança e alegria. Temos esse momento registrado em vídeo” 

disse o pai da menina.

Brinquedos proibidos

Após essa experiência, uma funcionária, que se identificou como supervisora, se aproximou e informou que quatro brinquedos eram proibidos para crianças com qualquer tipo de deficiência: Montanha Russa (Mixed Coaster), Spin Zone, Auto Pista e VR Time Travel. Segundo a família, nenhum material explicativo foi apresentado e não havia qualquer critério técnico.

Mais tarde, Ana Clara pediu para voltar ao Chronoz, no mesmo brinquedo que já tinha ido antes. O pai a acompanhou.

“Ela era a primeira da fila. Quando a rodada terminou e as portas foram abertas para os novos usuários, o atendente se aproximou de nós e, sem o menor tato, cuidado ou empatia, disse: ‘Infelizmente, não estou autorizado a deixar ELA entrar’. Surpreso, perguntei o porquê, e a resposta foi ‘porque ela tem deficiência, e é proibido o o a esse brinquedo’”

detalhou Jefferson.
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Foto: Reprodução/HotZone.

O pai disse que argumentou que ela já tinha ido nesse brinquedo minutos antes, e mesmo assim não houve conversa.

“Ele se manteve irredutível. Solicitei falar com o gerente. Este, por sua vez, apenas repetiu que era uma norma da fabricante e que, caso quiséssemos registrar uma reclamação, deveríamos entrar em contato com a central da HotZone no Rio de Janeiro”.

O pai se propôs a um termo de responsabilidade, pois Ana Clara já frequentou brinquedos semelhantes em outros parques e não teve problema. Mas os funcionários disseram que não havia tal possibilidade, porque o parque não oferece esse tipo de documento.

“Nesse instante, quando me virei para olhar Ana Clara, ela já estava afastada do brinquedo, chorando (temos imagens desse momento). Uma criança de 9 anos chorava pela rejeição. Pela exclusão. Pela violência emocional de ser impedida de fazer parte”

comentou o pai.

Discriminação, diz família

Segundo a família, em nenhum momento houve uma avaliação individualizada, um parecer técnico ou qualquer tentativa de buscar uma solução inclusiva. 

“A única razão pela qual a deficiência de Ana Clara era conhecida é porque, no início do evento, buscamos orientação de forma proativa e respeitosa. Não houve triagem. Não houve acolhimento. Houve exclusão e total falta de preparo”

concluiu Jefferson Bertoldi, pai de Ana Clara.

A família disse que está buscando as medidas cabíveis junto aos órgãos competentes e também registrou boletim de ocorrência.

HotZone reconhece erro

Procurada, a HotZone disse que está ciente do fato ocorrido em sua unidade do ParkShoppingBarigüi e reconheceu o erro.

“Apesar de um episódio isolado, foi um erro operacional, ainda que o objetivo tenha sido garantir a segurança e integridade física da criança”

disse a nota da HotZone.

A HotZone reiterou que os equipamentos possuem restrições técnicas de uso, informadas nos próprios brinquedos. “No caso do Chronoz, recomenda-se a não utilização por pessoas com alguma deficiência física”.

O ParkShoppingBarigüi lamentou o ocorrido e se solidarizou. O shopping informou que está em contato com a loja HotZone para que as devidas providências e melhorias sejam adotadas. “Reiteramos nosso compromisso com a manutenção de um ambiente seguro e de o a todos”.

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Foto: Reprodução/HotZone.