O dia 26 de maio certamente é um dos mais importantes da história do Athletico. Não é a data de nenhum título inesquecível, ou de um jogo marcante, mas sim de uma reformulação de bastidores que salvou o Furacão e o colocou em um outro patamar do futebol. Neste mesmo 26 de maio, mas de 1995, há 30 anos, Mario Celso Petraglia encabeçava um grupo que assumiu o poder e, desde então, é o dono do poder no clube, com apenas breves intervalos de fora.

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Reza a lenda que tudo começou no Atletiba da Páscoa, no dia 16 de abril de 1995, quando o Rubro-Negro foi goleado por 5×1 pelo Coritiba no Couto Pereira, o que teria indignado Petraglia, como o próprio Athletico conta de maneira oficial. Porém, a situação não foi bem assim, com mudanças já sendo planejadas antes mesmo do fatídico clássico.

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“A imprensa estava junto na reunião e de fora, quem vê, só aparece a reunião. O Mario faz um discurso inflamado de vamos salvar o Athletico. Para quem estava olhando, o fato que desencadeou tudo foi o Atletiba, criou-se isso e a coisa foi mitificada. Mas já vínhamos nos movimentando antes disso, uma mudança de estatuto não acontece de uma hora apara outra”, relembrou José Henrique de Faria, presidente do Conselho Deliberativo do Furacão entre 1995 e 1996, em entrevista exclusiva à Banda B.

“Nós pensamos em criar uma comissão que pudesse gerir o Athletico, mas não havia nenhuma previsão no estatuto para essa comissão gestora. Fizemos uma mudança no estatuto, chamamos uma assembleia, aprovamos e havia já todo um processo para a criação dessa comissão, que era basicamente com a participação do Mario Celso, mas também do Enio Fornéa, Ademir Adur, Ademir Gonçalves, Gilvan Bueno, Edilson Thiele, (José) Hélio Drabeski, (José Carlos) Farinhaki, Eliomar Ribeiro e com o apoio importante do Valmor Zimmermann”, completou.

As primeiras mudanças

Em meio a todo o processo para definir a equipe gestora, Petraglia precisou ser convencido de ser o presidente, função da qual ele chegou a desistir, mas foi convencido, no dia da assembleia. E a decisão pode ter sido o diferencial, uma vez que ele virou a cara desta revolução.

Claro que pelo fato de o Petraglia ter assumido a coordenação deu a impressão que foi ele que teve a iniciativa, mas era um conjunto. Ele teve uma participação destacada, articulações políticas, que facilitaram muito, mas alguns nomes não apareceram tanto na época e foram fundamentais”, afirmou Faria.

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Diante daquele cenário catastrófico, com o clube afundado em dívidas e sem um time minimamente competitivo, os primeiros os foram ajustar a casa, no sentido mais literal possível. O patrimônio sempre foi o principal alvo de Petraglia, que, ambicioso, sonhava alto e queria modernizar o Rubro-Negro.

Nisso, a influência política do mandatário atleticano foi fundamental. Com uma boa ligação com o então governador do Paraná, Jaime Lerner – quem ajudou a ser eleito em 1994, quando foi tesoureiro da campanha -, negociou um acordo com o governo por uma área em São José dos Pinhais, na qual ficava um parque aquático do clube e que foi desapropriado para a construção de um canal extravasor, devido às enchentes na região.

Petraglia, presidente do Athletico
Petraglia na antiga Baixada, em 1995. Foto: Arquivo/Athletico

À época, o valor pago pelo governo como indenização virou até motivo de ataques da oposição, uma vez que a quantia seria muito maior do que outros moradores do local receberam. E, com isso, o clube conseguiu comprar o terreno onde construiu o atual CT do Caju, o centro de treinamento mais moderno do Brasil.

Ao mesmo tempo, reconstruiu a Baixada, para onde o time tinha voltado a jogar em 1994 e ficou até 1996. Entre 1997 e 1998 precisou mandar suas partidas no Pinheirão, retornando em 1999, já como Arena. E mesmo com esses altos investimentos em patrimônio conseguiu renegociar dívidas e valores, dentro de um saneamento financeiro para quitar os débitos de mais de R$ 2 milhões.

Petraglia fez mais bem ou mal ao Athletico?

No final dos anos 1990, após a modernização do patrimônio, o Athletico investiu no futebol e respirou novos ares. Ainda em 1995 conquistou a Série B e em 1996 chegou a disputar o título do Brasileirão, avançando para o mata-mata. Três anos depois, em 1999, conquistava, pela primeira vez, o direito de disputar uma Libertadores, e em 2001 alcançou o ápice ao erguer a taça do Campeonato Brasileiro.

No meio do caminho, chegou a duas finais de Libertadores – 2005 e 2022, ganhou uma Copa do Brasil, em 2019, e duas Sul-Americanas, em 2018 e 2021, além de outras decisões, nacionais e internacionais.

Thiago Heleno e Petraglia levantam a taça do Athletico de campeão paranaense
Última conquista da ‘era Petraglia’ foi o Paranaense de 2024, ano do centenário. Foto: Geraldo Bubniak/AGB

Por outro lado, Petraglia em alguns momentos chegou a ser um tema complicado internamente. Brigou com todos seus aliados por diversas vezes. Em 2002, renunciou e voltou nos braços da torcida, no movimento “Fica, Petraglia”. Em 2008, renunciou novamente, mas ali quebrou um elo com Marcos Malucelli, que era presidente do Conselho istrativo e ficou fora do clube até o final de 2011, quando foi eleito presidente novamente, depois da primeira volta à Série B.

Nestes três anos em que ficou fora, virou uma forte oposição, com diversas críticas e até vazamento de valores salariais de jogadores. Ao mesmo tempo, na volta ao poder nestes últimos quase 14 anos, foi cobrado por não investir tanto no futebol e criar atrito com torcedores, como a situação atual, com gestos obscenos no estádio.

Diante de todos esse cenários, afinal, Petraglia fez mais bem ou mal ao Furacão? Por conta das conquistas, na opinião de parte da torcida e de dirigentes que estiveram com ele, a resposta é unânime ao colocá-lo entre as figuras mais importantes da história do clube. Mas, a forma como toma as decisões sozinho e o fato de não ter deixado pessoas preparadas para as mesmas funções deixam uma preocupação para o futuro.

Quando se tem uma decisão centrada em uma única pessoa, você tende a repetir defeitos. E agora foi uma queda vertiginosa, com os efeitos aparecendo. Junto veio uma questão de saúde do Petraglia, que teve que se afastar, e não havia ninguém para gerir o clube da maneira que estava sendo feito. E isso precisa ser revisto, para não darmos mais os atrás. De forma geral, o Petraglia fez mais bem do que mal ao Athletico, mas não fez sozinho“, finalizou José Henrique de Faria, que já foi aliado e oposição do dirigente, que há 30 anos é quem dita as regras no Rubro-Negro.

Petraglia, presidente do Athletico
Petraglia reformulou estrutura e futebol do Furacão, mas vive um presente de cobranças. Foto: José Tramontin/Athletico